Meu repertório de terror sagrado também passa por igrejas, e especial a capela do colégio em que sempre estudei. Tem uma premissa encarceradora essa estética cristã dos colégios do século XIX e XX. Acho que queriam nos manter lá pelo assombro, pelo medo, pelo desejo e pela curiosidade. Tudo misturado, apostando na nossa fantasia de criança e de entusiastas do encantamento. Sabe o que me assustava? A placidez das imagens, os olhares angelicais (e enormes) dos santos que compunham o altar. Queria tanto coroar a nossa senhora, me aproximar daquilo que metia medo e despertava desejo. Tinha, sei lá, seis anos? Fui escolhido para coroar. Na verdade, não, fui escolhido para colocar o mastro em sua mão nada articulada. Uma frustração. O mastro não enfiava no buraco e conforme forçava com a ajuda da professora, vida as rachaduras dos dedos e o pó do gesso cair. Naquele momento a capela toda se transformou em mais um lugar banal.
Já procurei a banda pra escutar depois. Não conhecia, mas gosto muito da estética ortodoxa. Quanto ao terror sagrado, sinto que tudo o que é antigo demais e preservado no tempo (quase imutável de certa forma) é um pouco aterrorizante. É a sensação de saber que alguém está ali, saber que sou visto, mas não poder ver. É aguçar os ouvidos e não escutar nada. É aquele medo de, sozinho no deserto, encontrar um arbusto que não queima e um fogo que não se apaga. Coisas naturais num comportamento não natural.
Esse painel me lembrou muito o design de arte do jogo "Pentiment", que em alguns momentos tem seu quê de assustador e vejo agora até uma conexão com a ideia que você trouxe de terror sagrado.
Na casa de parentes, tinha um corredor longo com um jesus entalhado em madeira, na parede dos fundos. Ele tinha uns olhos azuis penetrantes. Ficava meio absorvido com aquilo
Meu repertório de terror sagrado também passa por igrejas, e especial a capela do colégio em que sempre estudei. Tem uma premissa encarceradora essa estética cristã dos colégios do século XIX e XX. Acho que queriam nos manter lá pelo assombro, pelo medo, pelo desejo e pela curiosidade. Tudo misturado, apostando na nossa fantasia de criança e de entusiastas do encantamento. Sabe o que me assustava? A placidez das imagens, os olhares angelicais (e enormes) dos santos que compunham o altar. Queria tanto coroar a nossa senhora, me aproximar daquilo que metia medo e despertava desejo. Tinha, sei lá, seis anos? Fui escolhido para coroar. Na verdade, não, fui escolhido para colocar o mastro em sua mão nada articulada. Uma frustração. O mastro não enfiava no buraco e conforme forçava com a ajuda da professora, vida as rachaduras dos dedos e o pó do gesso cair. Naquele momento a capela toda se transformou em mais um lugar banal.
Fascinante essa quebra de encanto, né? Enquanto vc tava só na contemplação, todo o mistério e o assombro se preservavam. Bastou tocar...
Já procurei a banda pra escutar depois. Não conhecia, mas gosto muito da estética ortodoxa. Quanto ao terror sagrado, sinto que tudo o que é antigo demais e preservado no tempo (quase imutável de certa forma) é um pouco aterrorizante. É a sensação de saber que alguém está ali, saber que sou visto, mas não poder ver. É aguçar os ouvidos e não escutar nada. É aquele medo de, sozinho no deserto, encontrar um arbusto que não queima e um fogo que não se apaga. Coisas naturais num comportamento não natural.
"Coisas naturais num comportamento não natural": descrição perfeita, Carlos, concordo demais contigo.
Esse painel me lembrou muito o design de arte do jogo "Pentiment", que em alguns momentos tem seu quê de assustador e vejo agora até uma conexão com a ideia que você trouxe de terror sagrado.
Na casa de parentes, tinha um corredor longo com um jesus entalhado em madeira, na parede dos fundos. Ele tinha uns olhos azuis penetrantes. Ficava meio absorvido com aquilo
Não conhecia o jogo, pesquisei umas imagens aqui e achei fascinantes. Sim, algumas imagens de Jesus podem causar um belo dum terror sagrado, rs
falando em igrejas e imagens, você já viu essa capela que fica em mauá? as paredes têm afrescos ilustrando o livro do apocalipse, é fantástico. há alguns anos fiz uma matéria sobre ela: https://www1.folha.uol.com.br%2Fsobretudo%2Fmorar%2F2017%2F12%2F1943463-afrescos-de-capela-em-maua-unem-arte-sacra-e-modernismo.shtml
Nunca tinha visto! Que incríveis, e as cores! Agora quero visitar o quanto antes, valeu por me apresentar. E que legal seu texto pra Folha, Bia =D